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Prestes a completar 85 anos de idade (no dia 23 de setembro), o mestre da arte cinética Julio Le Parc ganha no Brasil uma retrospectiva dedicada exclusivamente à sua obra. A exposição Uma busca contínua, em cartaz na Galeria Nara Roesler a partir de 3 de outubro, apresentará uma compreensiva seleção de trabalhos produzidos pelo artista argentino nos últimos 55 anos, alguns dos quais em grande formato, além de uma instalação inédita concebida especialmente para a ocasião. Com curadoria da venezuelana-americana Estrellita B. Brodsky (respeitada colecionadora e curadora, especialista em arte da América Latina), a mostra ocupará o jardim interno, o pátio e os 600 metros quadrados do andar térreo da galeria, onde, no próprio dia 3, às 17h30, ela e o artista participarão de uma conversa aberta ao público, com entrada franca.

Julio Le Parc, que no primeiro semestre levou mais de 170 mil pessoas à sua exposição no Palais de Tokyo, em Paris, cidade onde vive desde 1958, foi um dos criadores, em 1960, juntamente com Horacio García Rossi, Francisco Sobrino, François Morellet, Joël Stein e Jean-Pierre Vasarely (conhecido também como Yvaral), do Groupe de Recherche d’Art Visuel, melhor conhecido como GRAV (1960-68), coletivo de artistas ótico-cinéticos, cujo principal objetivo era estimular a interação do público com as obras. Indiferente às demandas do mercado e em busca de uma forma menos convencional de se fazer arte, o grupo apresentava suas criações em locais inusitados e até na rua. As obras e instalações de Julio Le Parc, constituídas primordialmente por jogos de luz e sombras, são fruto direto desse movimento, em que a produção de uma arte transitória e sem fins comerciais tinha uma clara conotação sociopolítica. 

“Ao longo de seis décadas, Julio Le Parc buscou de maneira sistemática redefinir a própria natureza da experiência artística, trazendo que ele chama de ‘perturbações dentro do sistema artístico’. Ao fazer isso, ele brincou com as experiências sensoriais do público e deu aos espectadores um papel ativo”, explica a curadora. “Após a dissolução do GRAV, em 1968, Le Parc continuou se dedicando ao que chama de ‘uma busca contínua’ por uma experiência artística que nunca supõe ditar um efeito pré-determinado. Em vez disso, seu esforço é no sentido de provocar uma resposta espontânea do público”. 

Apesar de seu papel fundamental na história da arte cinética, as telas, esculturas e instalações de Le Parc incluem questões relativas aos limites da pintura, por meio tanto de procedimentos mais próximos da tradição pictórica, tais como a acrílica sobre tela, quanto de assemblages ou aparatos mais propriamente cinéticos.

“Para Le Parc, o objetivo é exatamente a interrogação e a reestruturação do entorno imediato. Ele busca uma total cumplicidade que exige do espectador não somente participação ativa, mas também autorreflexão. Dessa forma, a prática de Le Parc vai além do mero espetáculo visual rumo a um envolvimento físico com o presente – a arte enquanto concepção humana, uma arte que não pode mais permanecer absoluta”, analisa Estrellita B. Brodsky.